Take 2

quinta-feira, março 08, 2007

O admirável mundo novo das não-relações

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... actualmente as relações não chegam a começar e mesmo que comecem raramente se sabe se começaram quanto mais pensar que acabaram! (*)

E assim se descreve muito resumidamente ao que as relações hoje em dia estão resumidas! Brilhante!

Aqui há tempos no blog de um amigo falava-se sobre possíveis designações para as relações modernas. Surgiam pois as sugestões mais óbvias: amigos, namorados, amigos coloridos, etc, etc. Lembro-me de ter achado esse post muito redutor e de ter pensado que seria necessário inventar muitos novos conceitos para cobrir a multiplicidade destas novas relações que existem hoje em dia. E logo para começar, chamar-lhes-ia antes não-relações, mais apropriado, não?

“No meu tempo beijávamos um rapaz e tínhamos um namorado. Hoje em dia dás uns quantos beijos, vais para a cama, e não sabes o que é que tens. Pior, na maioria dos casos sabes que não tens nada.”

Este foi um excerto de uma conversa que tive recentemente com dois amigos, em que discutíamos exactamente esta temática dos não-relacionamentos. Claro que um deles aproveitou de imediato a deixa para fugir a uma conversa mais séria e partilhar o seu ponto de vista sobre o assunto e, em tom de brincadeira maliciosa (a brincar, a brincar), pergunta-me “Ao fim de quantos beijos é que vais para a cama?”

Enfim…

No meio desta enorme algazarra, a chave da sobrevivência é cada vez mais a nossa capacidade de adaptação a novas realidades. Até porque, neste mundo de alta velocidade, uma relação que no final de um dia cai numa determinada designação, no dia seguinte pode já cair noutra, ou até mesmo já não cair em designação nenhuma...!

Até aqui tudo bem, é razoável, ninguém é obrigado a gostar de ninguém e os sentimentos podem de facto mudar da noite para o dia, sobretudo quando na maioria dos casos não havia quaisquer sentimentos para começar...

Ao que eu ainda não me consegui adaptar foi à falta de comunicação que reina neste mundo das não-relações. Está bem que nós somos todos rapazes e raparigas inteligentes e não precisamos que nos façam nenhum desenho mas... Sendo certo que para bom entendedor meia palavra basta, quando não há sequer essa meia palavra, o bom entendedor tem que passar a ser também um bom adivinhador!

Conclusão, ainda não sou suficientemente moderna para conseguir viver bem neste admirável mundo novo das não-relações. Mas eu chego lá! Mais umas quantas vidas e eu chego lá!
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Além do mais, tudo tem o seu lado positivo. Neste caso, o facto destas pseudo relações começarem e acabarem sem que sequer o percebamos, faz com que também não se derramem demasiadas lágrimas na tentativa de esquecer algo que não houve sequer tempo nem cumplicidade para construir. Estaremos pois a caminhar num sentido em que as gerações futuras não compreenderão tão pouco o significado da expressão "sofrer por amor"? E não sofrer é sempre bom! Ou será que não?
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(* Esta frase foi retirada do post da Niki : “O que fazer para esquecer um grande amor”)

21 Comments:

  • At março 08, 2007 5:10 da tarde, Blogger Aragana said…

    Oh Pandora... amiga... eu sirvo-te um chá (ainda é hora de chá) e digo-te assim:

    - Tu passas a ser "material" de relação quando estiveres do lado de lá, ou seja, quando fores uma pessoa de não-relações. Quanto estiveres a borrifar para se o tipo tem sentimentos ou não, o que é que quer ou gosta.

    Até mesmo quando achares que vives melhor com o teu vibrador e com o filme dos pepinos marotos acompanhar!

    O resto falamos outro dia.

    Beijo

     
  • At março 09, 2007 12:39 da manhã, Blogger Martini Man said…

    - A questão é que nós fomos "programados" com a moral e as expectativas de uma época em que havia uma progressão directa de relações bem definidas (Amizade, namorados, noivos, casados - e terminava ai!) mas vivemos moutra época em que não há nem progressão, nem relações bem definidas. - Disse o outro amigo que não estava de olho na cigana, nem no burro.

     
  • At março 09, 2007 12:54 da manhã, Blogger Martini Man said…

    Vai ler aqui http://entre-as-palavras.blogspot.com/ o segundo post.

     
  • At março 09, 2007 10:39 da manhã, Blogger VF said…

    Que dizer?

    Definir uma relação é assim tão importante?
    E ao definir uma relação não a estaremos a limitar?
    Dar uma definição a uma relação não é mais do que encaixa-la num determinado padrão para que assim possamos lidar com ela de uma forma confortável, quando muitas das vezes o desconforto da insegurança é muito mais motivador?

    As não-relações podem até parecer muito modernas, produto de um tipo de vida cosmopolita, onde o consumo estende os seus ramos também às pessoas, no entanto a negação do que existe não transforma necessáriamente o desconforto de não se saber o que se tem, em conforto de nada se ter!

    Complicado...
    Pois é...
    O problema das relações sempre foram as pessoas, e tenho para mim que apesar da evolução de que falas que trouxe o advento das não-relações, as pessoas vão continuar a ser o problema!

     
  • At março 09, 2007 4:01 da tarde, Blogger Miguel said…

    quando se gosta a sério gosta-se é algo que existe e chama-se namoro, nada tem de complicado. Tudo o resto são basófias...
    gos___ mui__ d_ po__ ,

    beij____

     
  • At março 09, 2007 6:07 da tarde, Blogger Susana said…

    Para mim há outra coisa importante, algumas vezes culpam-se os outros da nossa própria insegurança, da nossa insatisfação e da nossa incompreensão simplesmente porque é mais fácil quando não se sabe o que se esperar do outro lado, simplesmente porque dá mais trabalho investir numa possivel relação e porque as pessoas vivem com medo de arriscar, e porque instintivamente já não esperam muito para além de uma não-relação. Á parte disto e para além de tudo o que disseste e muito bem, a falta de comunicação (não consigo perceber os silêncios) e a velocidade com que se passa do "conhecer" ao "não voltar a ver" é assustadoramente rápida, mas isso é determinado pelos dois e quando se dá por ela já foi ontem!
    se calhar é verdade que algumas pessoas gostam de sofrer e se calhar também é verdade que algumas pessoas dão demasiada importância a quem na verdade não a tem e isso é algo que apenas a cada um cabe resolver.

    Ou se calhar agora lendo outra vez a aragana é que tem muita razão.

    Beijo

     
  • At março 11, 2007 12:51 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Aragana,

    Obrigada pelo chá!
    :)
    Eu só não te digo que nunca estarei do lado de lá porque se houve coisa que eu já aprendi foi a nunca dizer nunca… mas de facto teria de mudar muito para deixar de me importar com os sentimentos da outra pessoa.

    É que eu já mudei tanto, mas há valores que (ainda) não perdi… e para dizer a verdade não estou mesmo interessada em tornar-me uma pessoa de não-relações. Vivo-as, claro, que remédio, mas não gosto delas. É apenas uma questão de adaptação para sobreviver, seguindo a teoria da evolução da espécie aplicada aos relacionamentos!

    Olha, sabes o que te digo? Whatever!

    Beijos
    ps: filme dos pepinos marotos?? KINKY...

     
  • At março 11, 2007 10:43 da tarde, Blogger Blade said…

    Bem ao ler este post só me passou uma cena pela cabeça...

    Sou mesmo OLD-SCHOOL..

    Este conceito de não-relação parece me uma justificação para a falta de coragem de assumir e/ou de preguiça de construir o que quer que seja. Afinal uma relação dá trabalho a montar, e preciso investir tempo e dedicação e sobre tudo fazer muitas concessões. Tudo o que vai contra as novas tendências do consumo.

    De qualquer modo parece me que as pessoas que se limitam a consumir as outras como se fossem fast-food acabam por se transformar elas mesmo em junk-food... (sabem bem mas só enchem por duas horas, depois disso ficas sempre com sensação que não comeste nada e o pior só te fazem mal ao sistema).
    Normalmente vêm numa embalagem bonita e algumas até têm uma publicidade muito apeladora (leia-se cantiga do bandido) mas o resultado é sempre o mesmo.
    O cómico é que mais tarde ou mais cedo vão acabar por ser elas proprias vítimas do sistema que ajudaram a criar. Quando se fartarem das emoções rápidas e quererem algo mais na vida do que passar facturas e aí é que a coisa se complica. Depois não há desconforto ou insegurança que motive quem já foi triturado na picadora a arriscar uma relação com um Mc-Menu por muito que este tenha um nome pomposo como Royale ou Deluxe.

    Para finalizar, não me parece que a solução seja passar para o lado de lá e transformares-te numa pessoa de não-relações, pois se assim for ainda mais difícil será construir uma relação pois logo à partida vais colocar essa opção fora do baralho.

    Ainda há muitos old-school por aí perdidos, se calhar não estás a procurar é no sitio certo.

     
  • At março 12, 2007 11:03 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Martini man,

    Mas olha que eu já me desprogramei há muito tempo. O que não quer dizer que seja confortável viver sem esse dito “programa”.

    Eu quero voltar para o Matrix!

     
  • At março 12, 2007 11:33 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Vítor,

    Definir uma relação não é nada importante, desde que ambos saibam com o que contam (ou não contam) e se sintam bem com isso. Defini-la é limitá-la? Só se for limitá-la às duas pessoas envolvidas! E percebo que a maioria considere isso uma limitação. Afinal de contas, a qualquer momento e em qualquer lugar podemos encontrar melhor do que temos, alguém mais interessante, mais bonito(a), mais whatever! Porquê limitar as nossas opções…?!

    Acho que esse é o grande problema, achamos que vamos sempre encontrar melhor, que esta ainda não é a pessoa certa e por isso saltamos de relação em relação em busca do pote de ouro no final do arco-íris.

    O pior é que neste processo vamos ficando “viciados” na adrenalina das novas conquistas, dos jogos de sedução e de poder sobre os sentimentos dos outros…
    Produtos estragados é o que nós somos!

    É Complicado... Ah pois é… As pessoas são e vão continuar a ser o problema! E eu continuo a não saber lidar com isto…

     
  • At março 12, 2007 11:35 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    O anónimo sou eu, claro! Esqueci-me de me ligar... duh

     
  • At março 12, 2007 4:23 da tarde, Blogger Tangerina said…

    As pessoas são o problema, sim. Tornaram-se amorfas, contentam-se com não-relações. Não investem, não se apaixonam, não choram nem rejubilam.Parvas, parvas, parvas!
    Beijo na Pandora:)

     
  • At março 12, 2007 4:34 da tarde, Blogger Jaime said…

    Fiquei um bocado confuso. Numa não-relação tem-se mais relações e menos ralações do que numa sim-relação? :-)
    Acho que sou do mundo velho mas gosto de ir sabendo!

     
  • At março 12, 2007 5:35 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Nuno,

    é assim e mai nada!

    Obri____,

    ____jinhos

    :)

     
  • At março 13, 2007 12:18 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Niki,

    De facto é triste perceber as baixas expectativas com que cada vez mais partimos para as relações. No fundo não passa de um mecanismo de defesa, resultado das más experiências passadas. Tive recentemente um exemplo fabuloso desta falta de expectativas quando um dia recebo um sms de uma amiga a dizer-me, relativamente a um rapaz com quem tinha começado a sair há um tempo, “acho que tenho um namorado”, frase que mais tarde me repetiu em tom de dúvida e ao mesmo tempo incredulidade. Lindo! Ao que nós chegámos...

    Como se já não bastasse partirmos todos com tantas reticências, a falta de comunicação abissal entre as partes envolvidas conduz inevitavelmente à velocidade que falas entre o “conhecer” e o “não voltar a ver” que se me permites eu diria mais “não voltar a falar”!

     
  • At março 13, 2007 1:21 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Blade,

    “... parece-me que as pessoas que se limitam a consumir as outras como se fossem fast-food acabam por se transformar elas mesmo em junk-food...”

    Só esta frase já valeu o comentário!

    Adorei as analogias! De facto sabe bem no (pouco) tempo que dura mas no final fica apenas uma sensação de vazio. E para o futuro, cada vez mais reticências...

    Quanto a tornar-me uma pessoa de não-relações, é como já respondi à Aragana, não é para mim. Aliás, acho que já percebeste isso, mesmo no pouco tempo que me conheces.

    Dizes-me tu que ainda há por aí muitos Old-schools?? Onde é que vocês andam? Come out, come out, wherever you are! Hihihi

    Não estou a procurar no sítio certo? Não. Não estou à procura e não há sítios certos ou errados. Não é uma questão de procura, é uma questão de acasos, quando e onde menos esperares encontras alguém que também te encontra a ti. E tu sabes isso muito bem!
    ;)

     
  • At março 13, 2007 2:31 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Tangerina,

    Nem mais. ParvOs, parvOs, parvOs!
    ;)

    Beijinho
    e obrigada pela visita

     
  • At março 13, 2007 2:44 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Jaime,

    teoricamente sim, o objectivo deverá ser esse. Mas nem sempre funciona, como podes imaginar. Depende da não-relação, há de tudo, como nas sim-relações.

    Ideia a reter: mesmo que assim seja não compensa porque no fim não tens nada!

     
  • At março 14, 2007 8:58 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Ora viva!

    Compreendi e gostei do seu ponto de vista, embora veja com bons olhos o facto destas novas relações não sofrerem por amor. Sempre achei escusado sofrer por amor pois é preferível viver para um amor.

    Hoje em dia é um pouco como o toca-e-foge pois as pessoas mantêm uma relação amorosa enquanto estão satisfeitas mas quando começam a sentir-se presas dão-de-frosque.

    Não conhecia o blog, por isso obrigado pela sua estimada visita.

    Um abraço...
    shakermaker

     
  • At março 15, 2007 12:16 da manhã, Blogger Blade said…

    Tens razão Pandora não interessa mesmo onde procuramos porque nunca sabemos onde e quando algo pode acontecer (o que também torna as coisas interessantes).

    Se à uns meses atrás me dissessem como nos iamos conhecer eu não ia acreditar... O cenário até era mais propício para as não-relações e no entanto estou numa sim-relação com uma pessoa que se calhar na altura estava mais inclinada para as não-relações (também tive bons cupidos a ajudar).

    Como tudo na vida isto depende da fase em que as pessoas se encontram. É normal haver alturas em que não queremos compromissos, ou porque estamos queimados ou porque queremos usufruir de mais liberdade. O que é mau é chegarmos ao ponto de não nos importarmos com o outro(s).
    Esse é o aspecto mais negativo das não-relações, podem ser muito interessantes do ponto de vista fisiológico, afinal todos temos as nossas necessidades, mas não sei até que ponto não perdemos um pouco da nossa humanidade quando passamos demasiado tempo sem nos envolvermos emocionalmente.

     
  • At março 19, 2007 5:58 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Mr. Shaker,

    Obrigada também pela sua visita e comentário.

    Não é que eu seja apologista de sofrer por amor, longe disso. Mas também não vejo com bons olhos a indiferença que observo (e sinto) cada vez mais nestas relações do toca-e-foge, como lhes chama e muito bem.

    Estamos permanentemente a ser "aliciados" e por isso ninguém está disposto a ficar preso e perder possíveis "oportunidades"...

     

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